Está “sobrando tempo” para o autocuidado? Como você anda fazendo isso?
Há mais de cinco meses nossas vidas mudaram. Fomos todos acometidos por enormes desafios, dentre eles, o de protegermos as pessoas, reinventarmos os negócios e a nós mesmos. E isso nos trouxe enormes questionamentos e expectativas sobre o presente e futuro.
Em uma organização, sem dúvidas o papel de cada indivíduo é de grande importância e tem feito toda a diferença, por isso este tema é em especial direcionado a vocês, líderes e equipes que têm trabalhado e se dedicado arduamente a superar os infinitos desafios junto aos seus times, empresas e famílias.
Momentos complexos exigem decisões complexas. Não estar na nossa zona de conforto, com certa previsibilidade, estabilidade e controle é, de certo modo, bastante desgastante – física e mentalmente.
Nos últimos meses, talvez você tenha agregado alguns novos papeis e funções: em casa – o de professor, motorista, enfermeiro, cozinheiro, jardineiro, entre outros. Talvez tenha adaptado sua casa com uma estrutura de home office e home school, ou ainda tenha feito novos contratos de convivência em família para adaptar a nova rotina. E nas empresas não foi diferente, as lideranças e equipes assumem cada vez mais um modelo de gestão compartilhada e navegamos entre áreas e hierarquias em busca de novos e bons resultados (os famosos times multidisciplinares).
Mais do que nunca nossos papeis estão integrados, ou quem sabe – atropelados nas mesmas 24h por dia: o trabalho em casa – a casa no trabalho, a escola em casa – os filhos em casa, os pais isolados… você no problema – você na solução e todos em seus limites!
Mas onde está você em meio a tudo isso? Já pensou nisso?
Certamente a maioria de nós vivemos tempos de insegurança e incertezas. Muitos se sentindo sobrecarregados e talvez até angustiados. Tudo isso pode acarretar sintomas disfuncionais físicos e psíquicos, como estresse, cansaço, dificuldades com o sono, falta de ânimo, irritabilidade, dificuldade de concentração e organização. É natural, cada ser humano tem seu limite e sua forma de lidar com as situações da vida (também poderíamos falar aqui sobre a tal da resiliência…) mas o fato é que sabemos que não podemos deixar a peteca cair.
Não há dúvidas de que também é na crise e na dor que crescemos, que mudamos, que nos reinventamos. E o mesmo ocorre com as empresas, afinal elas são, em última instância, uma construção humana e social. Mas para que esse crescimento e transformação ocorram, você precisa estar fisicamente e psicologicamente bem.
O ser humano é um ser biopsicossocial. Isso significa que, para estarmos bem, com capacidade de tomar decisões coerentes em momentos complexos, termos mais clareza, mais direcionamento, termos mais equilíbrio físico e mental, precisamos cuidar do nosso corpo, da nossa mente e das nossas relações sociais.
Ou seja, você pode planejar, se dedicar, cuidar de tudo e de todos – da empresa, da família e etc, mas se não se dedicar ao cuidado da sua vida nesses três aspectos, dificilmente você encontrará energia, disposição e equilíbrio suficientes para lidar com os desafios que a vida nos impõe.
O procedimento é o mesmo ensinado pelas companhias aéreas em casos de emergência no voo: primeiro você coloca sua máscara, para depois ter condições de ajudar as outras pessoas. Então isso significa que ninguém pode fazer esse trabalho por você!
Pensando em te apoiar encontrar mais clareza sobre com lidar com esse contexto, reservei algumas reflexões e dicas que podem fazer toda a diferença para que você encontre equilíbrio para seguir adiante e, quem sabe, descobrir novos caminhos. Tudo começa com um bom diagnóstico da situação atual:
Divida sua vida em áreas específicas e faça uma profunda reflexão sobre cada uma delas. Já falamos que somos um ser integrado, mas analisar de forma específica cada área irá te trazer bastante clareza sobre situações ou comportamentos que não estão mais funcionando e agir pontualmente. Poderá verificar áreas que estão te demandando mais do que deveria e outras que precisam mais da sua atenção.
Reflita sobre as principais emoções e sentimentos que você tem identificado ultimamente. Uma vida com mais equilíbrio emocional e psicológico começa quando somos capazes de identificar essas emoções e sentimentos e refletir sobre sua origem, ou seja, o que exatamente está provocando isso? Tente então identificar momentos que sente raiva, nervoso, tristeza, angústia ou ainda alegria, felicidade e tranquilidade – por exemplo – e tente correlacionar esses sentimentos com os fatos ou situações. Assim será possível que você faça uma melhor gestão das suas emoções e formas de lidar com elas e com as situações em si.
Analise situações que não estão satisfatórias. Procure por práticas, comportamentos ou acordos que não estão te trazendo benefícios ou que não estão te fazendo bem por algum motivo e reflita sobre como corrigi-las, melhora-las ou mitiga-las da sua vida. Não significa que você irá tomar providências imediatas, significa abrir uma possibilidade para mudanças, que certamente trarão uma vida com mais propósito e tranquilidade.
Liste as principais mudanças que ocorreram nos últimos tempos. Verifique como você foi impactado e quais são as perspectivas de futuro, pessoal e profissionalmente falando. Reflita sobre as mudanças na empresa, no mercado, na sua profissão e na sua carreira e quais caminhos você pretende seguir. Pode ser que a pandemia tenha impulsionado sua vida e carreira, ou ainda esclarecido o que você realmente deseja ou não para o futuro. O importante aqui é você ter clareza para definir os próximos passos a seguir.
Cuide da sua rotina alimentar, do seu condicionamento físico e do sono. Procure por um médico e profissionais especialistas de confiança e verifique como você pode equilibrar mais sua alimentação, introduzir a prática de atividades físicas e melhorar suas funções fisiológicas. Os impactos são significativos na disposição e energia que o momento pede.
Faça meditação ou mindfulness. Com alguns minutos por dia, você irá verificar como a prática traz mais transparência em relação aos acontecimentos, aos pensamentos e sentimentos, gerando mais equilíbrio e facilidade na tomada de decisões. Você encontra facilmente mais detalhes e estudos sobre este tema e vários aplicativos interessantes para a prática.
Faça psicoterapia. O processo terapêutico infelizmente ainda é um tabu para muitos, mas quem se dispõe a entrar neste universo descobre o quanto é libertador. É um processo profundo de autoconhecimento que, através da interação com o outro – no caso o psicólogo, te auxilia lidar com situações complexas, decisões, mudanças de paradigmas, sentimentos e emoções, principalmente em momentos como o que estamos vivendo. Há várias abordagens psicoterapêuticas e você pode avaliar aquela com a qual se identifica mais.
Fortaleça sua rede de apoio. Ninguém vive nem constrói nada sozinho. Reflita sobre quem são as pessoas que compõem a sua rede de apoio. E doe antes de receber: dê atenção e cuidado mesmo à distância. Aqui estamos falando de familiares, amigos e colegas de trabalho que provavelmente estejam passando por situações que mereçam atenção.
Além disso, avalie e se dedique à sua rede de relacionamento profissional, pois vivemos a era da conectividade e com certeza isso fará toda a diferença.
Faça planos consistentes. Assim como uma empresa, você também precisa ter seu planejamento. Após ter feito os passos anteriores, acredito que você já tenha uma base para planejar e estruturar o seu futuro. As crises também nos trazem oportunidades de mudança e crescimento. Então podemos trabalhar para o melhor!
Faça planos para as principais áreas da sua vida, para longo, médio e curto prazos. Assim, você terá mais clareza sobre o que fazer primeiro, como e quando. Envolva pessoas que poderão contribuir neste processo, ter um mentor pode ser um bom caminho, afinal, ele provavelmente já passou por situações que podem ajudar na sua caminhada.
Tenha autocompaixão. Para acertar e errar, construir e desconstruir. Nós somos seres em eterna construção e aprendizado, principalmente nesse mundo de constantes transformações. Se nós podemos aceitar o erro ou a fraqueza do outro, por que não podemos aceitar os nossos?
Nascemos e fomos educados numa sociedade de comando e controle, na qual os erros e “fracassos” eram totalmente abominados e isso resultou em uma geração extremamente autocrítica e punitiva. Mas, ainda bem, isso está mudando! Trabalhar a compreensão e empatia de si mesmo também é uma jornada de autoconhecimento – é um pouco por dia. Se permita!
Tenho certeza que faremos – e já estamos fazendo – coisas incríveis com tudo o que estamos vivendo!
Mas meu pedido aqui é que você pratique o autocuidado: investigue-se, preocupe-se, conheça-te, permita-se, transforme-se! Ninguém pode fazer isso por você!
Feito com carinho por Vanessa Torrezan
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